No cenário político contemporâneo, uma triste realidade ecoa silenciosamente: “morador de rua não dá voto”. Essa afirmação, embora ácida, reflete uma prática política negligente que perpetua a marginalização e o descaso para com uma parcela vulnerável da sociedade. Por trás dessa sentença aparentemente simplista, há um complexo sistema de exclusão que ignora sistematicamente as necessidades e os direitos dos moradores de rua, relegando-os à invisibilidade política.
A falta de representatividade política das pessoas em situação de rua é uma das facetas mais cruéis dessa realidade. Privados de recursos e muitas vezes sem documentação adequada, esses indivíduos enfrentam barreiras significativas para exercer seu direito ao voto. Além disso, a ausência de um endereço fixo dificulta sua participação nos processos eleitorais, excluindo-os ainda mais do sistema político.
O desinteresse político em relação aos moradores de rua se reflete não apenas na esfera eleitoral, mas também na formulação e implementação de políticas públicas. Embora leis, decretos e programas sejam criados para abordar as questões relacionadas aos sem-teto, a falta de vontade política muitas vezes impede sua efetiva execução.
As promessas políticas de combate à pobreza e à exclusão social muitas vezes se dissipam diante das demandas de outros grupos mais influentes eleitoralmente. Os moradores de rua, sem voz e sem representação, acabam relegados ao esquecimento, enquanto os recursos públicos são direcionados para áreas que proporcionam retornos políticos mais imediatos.
Além disso, o estigma social associado à condição de morador de rua contribui para a perpetuação desse ciclo de negligência. Frequentemente vistos como “invisíveis” ou “indignos” de assistência, esses indivíduos são marginalizados e desumanizados pela sociedade em geral, o que por sua vez legitima a inação do poder público.
A falta de moradia é apenas uma das muitas faces da pobreza e da exclusão social, e a solução para esse problema complexo exige um compromisso político genuíno e uma abordagem holística. Isso significa não apenas criar políticas inclusivas, mas também garantir sua implementação efetiva por meio de recursos adequados e monitoramento constante.
É imperativo que a sociedade como um todo reconheça a humanidade dos moradores de rua e exija responsabilidade dos governantes para garantir que eles não sejam deixados para trás. Somente através de uma mudança de mentalidade e ação política coordenada podemos começar a desmantelar as estruturas de exclusão que perpetuam a invisibilidade e o sofrimento dos mais vulneráveis entre nós. Enquanto “morador de rua não dá voto” continuar sendo uma máxima política, a verdadeira democracia e justiça social permanecerão ilusórias para aqueles que mais precisam delas.